sexta-feira, fevereiro 29

Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos.

O título do livro é sugestivo...
Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman, mostra-nos que hoje estamos mais bem aparelhados para disfarçar um medo antigo. A sociedade neoliberal, pós-moderna, líquida, para usar o adjetivo escolhido pelo autor, e perfeitamente ajustado para definir a atualidade, teme o que em qualquer período da trajetória humana sempre foi vivido como uma ameaça: o desejo e o amor por outra pessoa.


Este livro do sociólogo polonês foi o ponto de partida para o Laboratório de desenho experimental com descartes, Workshop que participei ano passado com os designers Alejandro Sarmiento e Lujan Cambariere...


Se transformando posteriormente em uma Exposição no Museu da Casa Brasileira!

"O conteúdo do laboratório experimental guarda afinidade com o pensamento de Bauman: Sua temática é fragilidade dos vínculos, como processo de reflexão sobre a produção desenfreada de objetos e a relação que estabelecemos com eles. Tratando-se de uma questão fundamental para designers e futuros profissionais que irão atuar na produção de novas realidades, relações e objetos. Abordando afetividades e vínculos para ampliar a visão pré-estabelecida com o universo material e de relações humanas em que estamos inseridos. Trata da superficialidade dos vínculos e da produção inconseqüente de nossa sociedade."



E agora.........

O grupo Lume estreou o espetáculo Fuga!, inspirado no livro “Amor Líquido” e também em algumas imagens da fotógrafa americana Diane Arbus.


"Memórias, evocações e projeções dos performadores - em relação - visam trazer o público para dentro da cena, e, em alguns momentos, os performadores para fora dela. Partindo de situações de espelhamento, provocações e compartilhamento de sensações, o espetáculo cria um ambiente físico/sensível, que possibilita diferentes leituras, numa proposta que constrói sua própria lógica.Neste aquário imaginário – um recorte de espaço/tempo – abrem-se tenas que surgiram do próprio processo, como: pontos de vista, opiniões, relações líquidas, medo e tempo. "



PARA SABER MAIS:

* BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

* Lab. de desenho experimental com descartes: http://satorilab.blogspot.com/

PARA VER :
*“Fuga!”. Todas as quintas-feiras, às 20h, no Teatro de Câmara (13º andar), na Unidade Provisória do Sesc Avenida Paulista, em São Paulo (avenida Paulista, 119). Até 10/4.http://satorilab.blogspot.com/2007_09_01_archive.html

...Ilha das Flores...

Um tomate é plantado, colhido, transportado e vendido num supermercado, mas apodrece e acaba no lixo. Acaba? Não.
ILHA DAS FLORES segue-o até seu verdadeiro final, entre animais, lixo, mulheres e crianças. E então fica clara a diferença que existe entre tomates, porcos e seres humanos.

Olhem só esse mini documentário criado por Jorge Furtado...

"Um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho."

Ilha das Flores - Parte 1





Ilha das Flores - Parte 2





ILHA DAS FLORES
(35 mm, 12 min, cor, 1989)
(janela 1.33, som óptico mono)

segunda-feira, fevereiro 25

Projeto Cru - o estado "bruto" da música brasileira.


Olhem só as músicas desse trio chamado Projeto Cru...
Conheci o som desse pessoal sexta-feira...quando eles vieram tocar aqui no Sesc Consolação!

O Projeto Cru compõe um som que traz o étnico, o eletrônico e desconstrói a formação clássica do jazz trio que costuma ser piano, baixo e bateria para baixo e bases eletrônicas de Alfredo Bello, bateria e percussão de Simone Soul e sax e flauta de Marcelo. A inovação do grupo tem inspiração no free jazz e o que se vê no palco é realmente uma construção e reconstrução das composições por meio da música de improvisação. No repertório, músicas autorais do grupo formado em 2001 que já tocou no Fórum Social Mundial em 2004 e lançou o primeiro cd em 2006.
"A música brasileira é vista com todos os olhos, com direito a total abrangêcia de gêneros de que é composta: a música intuitiva, livre, inusitada, decodificada, a música cerebral, intensional, o ritualistico, o regionalismo, o ecletismo, a música que incomoda, em alerta, a que acomoda, em conforto, a livre expressão.
O projeto Cru é o estado BRUTO do som em processo de criação, manifestado a partir da diversidade de timbres da bateria, da percussão, do contrabaixo, das pick ups, samplers, latas, panelas...traduzidos em temas instrumentais com dosagem grande de ritmos brasileiros, afro-cubanos e africanos..."
Vale a pena!

Interessantíssimo!

O Casaco de Marx, PETER STALLYBRASS

Um livrinho super fino e mega interessante em que Stallybrass pensa a relação das pessoas com as roupas e as coisas em geral. No primeiro texto descreve as roupas como objetos que se moldam à memória. No segundo texto, persegue o casaco de Karl Marx - que era penhorado freqüentemente - enquanto escrevia o "Capital", refletindo sobre as relações complexas entre as coisas como objetos de uso, como objetos onde imprimimos marcas e que carregam nossa memória.

A discussão em torno do livro “O casaco de Marx”, é basicamente sobre o significado da roupa, o que ela pode representar e às lembranças que elas remetem.
A roupa é extremamente duradoura, podendo durar mais que o tempo de uma vida humana, passando por diversas gerações e recebendo significados diferentes a cada pessoa que a usa, esses podem ser marcas físicas na roupas, ou significados e lembranças sentimentais.

“...a mágica da roupa está no fato de que elas nos recebem: recebe nosso cheiro, nosso suor; recebe até mesmo nossa forma.” (pg. 13).

Importante ressaltar que a roupa que herdamos de nossos pais e parentes têm um significado emocional, uma ligação de carinho, memória visual, cheiro: além das marcas físicas e da história da moda, que determina o período em que ela foi criada. Enquanto as roupas de brechó, que são muito comercializadas atualmente, são adquiridas sem valor de memória, a não ser pela época em que foram criadas, usando na escolha dessa peças um valor estético.

“ Os corpos vêm e vão: as roupas que receberam esses corpos sobrevivem. Elas circulam através de lojas de roupas usadas, de brechós e de bazares de caridade. Ou são passadas de pai para filho, de irmã para irmã, de irmão para irmão, de amante para amante, de amigo para amigo.” (pg. 14).

Neste pequeno livro pode-se concluir que na relação roupa-pessoa, os dois saem marcados: a roupa sai com as marcas físicas, sentimentais; enquanto a pessoa sai marcada com significado específico que ela atribui à peça.



e você, tem alguma roupa ou objeto de grande valor sentimental? aposto que sim...
Casaco de Marx: roupas, memória e dor. Peter Stallybrass.(2004)


Só para os bobos...

Das Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector

"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.

O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.

Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.

O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.á desvantagem, obviamente.

Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.

Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros.

Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera.

É uma das tristezas que o bobo não prevê.

César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida.

Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.

É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.

É que só o bobo é capaz de excesso de amor.

E só o amor faz o bobo."



me identifiquei....não com a Clarice, com a boba! =D

quarta-feira, fevereiro 6

Sugestão...

Pessoas....gostaria de sugerir um livro que estou relendo muitíssimo interessante...
Ele fala sobre um tema muito comentado atualmente: educação pública brasileira!
“A língua portuguesa no coração de uma nova escola”....é...pelo nome parece aqueles livros chatos...cheios de teorias, teses e blá,blá,blá!
Mas não é nada disto....

O livro é um relato de três professoras da língua portuguesa que tentam ensinar de uma maneira diferente, trazendo vida às salas de aula. Fazendo o que fazem, restituem a língua materna no coração de uma nova escola a construir.

As escolas em geral partem do pressuposto de que as crianças são inteligentes e aprendem sozinhas, ou não são inteligentes e não há nada a fazer. Elas cumprem então o tempo da escolaridade prevista por lei, que serve para reafirmar sua incapacidade, sendo lançadas na sociedade como indivíduos desacreditados.
Ensinar ao inteligente, acreditar em quem se acredita é muito fácil. Ensinar a acreditar em si aquele que não se acredita, desenvolver a inteligência onde ela não parece existir é o desafio que espera o professor da escola pública.

“A Língua Portuguesa no Coração de uma Nova Escola”,
relato de um trabalho alternativo na rede pública do Rio de Janeiro é a crônica de uma escola desejada e possível, construída nas certezas e incertezas do dia-a-dia, com a ousadia de quem não aceita que seu aluno continue pequeno.

“Sem linguagem, nenhum outro saber é acessível; sem emoção, o conhecimento se reduz ao que foi e não ao que pode ser.”

Deste livro, nenhum leitor sai como chegou. Por isso, vale a pena lê-lo.



Evangelizadores, nós temos uma parcela de responsabilidade nessa educação, ou não?

* A Língua Portuguesa no Coração de Uma Nova Escola, Regina Lúcia de Miranda, 172 págs., Ed. Ática, tel. (0_ _11) 3346-3000, 17,30 reais

segunda-feira, fevereiro 4

Ron Mueck

Esse escultor hiper-realista Australiano é fera!

Antes de mais nada se liguem nos detalhes de pele, rugas, veias e cabelos...


Australiano, nascido em Melbourne em 1958, Ron Mueck cresceu vendo os pais construírem brinquedos. Apreendeu! Fazia os seus.Da infância à adolescência desenvolveu habilidade manual e criativa. Fazia títere e se tornou titiriteiro. Dos títeres passou a criar bonecos em tamanhos vários para publicidade. Além dos bonecos sempre que havia necessidade de se ter uma réplica de um objeto em escala menor ou maior, Mueck era requisitado. Embora soubesse que eram obras de arte, em nenhum momento as considerou como tal. Tão pouco assumiu a postura de artista. Tinha tudo para fazê-lo. Não fez.

Dos títeres, dos bonecos, das réplicas, passou aos efeitos especiais. Chegou aos Estados Unidos. Colaborou com efeitos especiais no Muppet Show ,Sesame Street, Dreamchild e Labyrinth. Nas horas vagas, sempre que podia amassava um pouco de argila e esculpia.Em 1996, sua sogra, a artista anglo- portuguesa Paula Rego, pediu-lhe que esculpisse para ela um Pinnochio. Foi Pinocchio quem abriu o caminho da fama e da fortuna para Mueck. Charles Saatchi, o super poderoso empresário, publicitário e colecionador, ao ver Pinocchio no ateliê de Paula Rego encomendou quatro outras esculturas para a exposição Sensation: Young British Artist from the Saatchi Collection a ser apresentada na Royal Academy of Arts em Londres em dezembro de 1997. Nessa exposição Mueck chamou a atenção da crítica e do público com a escultura Dead Dad, Papai Morto. Em escala reduzida, dois terços do tamanho natural, apresentou o corpo nu do pai. Dead Dad foi esculpida de memória em fibra de vidro. Hiper-realista a escultura é de verossimilhança assustadora. A cor, a textura, as imperfeições da pele, as rugas, detalhes como as unhas, as sobrancelhas, os cabelos, fazem de Dead Dad um marco na história da escultura moderna e contemporânea.A imagem reduzida do corpo de um adulto, com todas as marcas da idade, morto, provoca no mínimo sentimentos e emoções conflitantes. A redução altera todas as referências conhecidas. A ampliação também.


"Mueck, ao contrário dos gregos e romanos, foge dos padrões estéticos por eles criados. Não respeita e ignora as proporções que tanto uns como outros cultivavam. As sete cabeças e meia, o padrão ideal, para ele não significam nada. Reduzir, ampliar, são os verbos que conjuga ao esculpir. "


Suas esculturas hiper-realistas em fibra de vidro, silicone, rezina acrílica, poliéster, onde quer que sejam expostas chamam a atenção pelo realismo, pela verossimilhança e pelas dimensões. Enormes!!! Ou de reduzidas proporções. A capacidade de Mueck de transformar as mais simples ações do dia-a-dia em instigantes obras de arte nos fala de uma nova postura com relação ao ver e ao fazer arte. A utilização de materiais mais dúcteis e leves faz parte dessa visão em que a escala é fundamenta, domina.

Dez anos na vida de uma artista é pouco. Na de Mueck não. Suas esculturas estão na National Gallery e Na Tate Gallery de Londres, no Hirshhorn de Washington, no Modern Art Museum de Fort Worth, no Modern Art de San Francisco, na National Gallery of Canadá em Ottawa, na National Gallery of Austrália em Canberra.

Mueck não tem site oficial [ainda!]
Mais informações aqui: http://www.artesdoispontos.com/artistas.php?tb=artistas&id=15

sexta-feira, fevereiro 1

Calvin and Hobbes, Bill Watterson

Bom...sou viciada em histórias em quadrinhos e achei interessante fazer um post falando sobre Bill Watterson, autor de Calvin e Haroldo(Calvin & Hobbes, no original)! Na minha opnião um dos melhores cartunistas...junto com Quino (autor de Mafalda) e Laerte...


Tai uma sequência de tirinhas que adoro!
Com um detalhe...a tradução está errada...
ao invés de "estiloso", o certo é "descolado".




[*para conseguir ver os diálogos clique duas vezes na tirinha]


Criados por Bill Watterson em 1986, esses dois "carinhas" mudaram a vida de muita gente. Calvin vive suas peripécias ao lado de seu fiel amigo Haroldo, um tigre que, aos olhos de Calvin tem vida. Com roteiros simples, singelos e ao mesmo tempo extraordinários e reais, as tiras de Calvin e Haroldo já cativaram e emocionaram milhares de pessoas no mundo inteiro. Os diálogos são carregados de filosofia, e mesmo que as vezes Calvin demonstre uma mentalidade acima do normal, Watterson não usa isso para passar ideologias perspicazes, mas insere em um contexto de crianças, de imaginação fértil, de brincadeira. O resultado é uma tirinha leve e divertida. Mesmo sendo o Calvin equizofrênico e hiperativo.


"Há poucas fontes de humor mais constantes e regulares do que a mente de uma criança. Muitos cartunistas, ao criar personagens infantis, reconhecem isto, mas quando eles se propõem a captar o ativo mundo infantil, quase sempre se enganam, criando vergonhosamente crianças irreconhecíveis, ou seja, espertinhos, miniaturas de adultos. Culpe-se que à negligência ou às recordações distorcidas, a maioria das pessoas que escrevem histórias em quadrinhos para menores demonstram surpreendente pouco tato - ou fé - ao lidarem com esta fonte original de material que é a infância, em toda a sua simplicidade e doçura. É neste aspecto que Bill Watterson se mostra tão original quanto seus personagens, Calvin e Haroldo. Watterson o escritor que acertou ao captar com precisão a infância como ela realmente é, com suas constantes mudanças no sistema de referências. Qualquer um que tenha passado algum tempo com uma criança, sabe que para elas, a realidade depende profundamente da situação. Um afirmação que um adulto julga ser uma 'mentira', pode muito bem refletir uma profunda convicção da criança, pelo menos no momento em que esta aflora. A fantasia é tão acessível e é vivida com tal força e freqüência, que pais ressentidos como os de Calvin, convencem-se de estarem sendo manipulados, quando a verdade é muito mais assustadora: eles nem mesmo existem. A criança é ao mesmo tempo rainha e guarda do seu reino, e pode mostrar-se muito exigente quanto aos companheiros que escolhe. Esta exclusividade, é claro, apenas provoca em alguns adultos a tentativa de recobrar os dons da infância para si próprios para, em realidade, tentar recuperar o irrecuperável. Uns poucos desesperados, fazem coisas que posteriormente os levarão à um centro para doentes nervosos. O restante de nós, mais sensatos, lêem Calvin e Haroldo." - Garry Trudeau