quinta-feira, abril 11

O poder transformador do design


[texto publicado originalmente no blog Moda do Futuro da jornalista Danielle Ferraz. http://modadofuturo.com/o-poder-transformador-do-design/]

Conheci Juliana Foz numa banca de formandos do Senac. Com suas criações que aliavam moda e sustentabilidade com beleza e poesia encantou, não só a mim, mas a todos os presentes: foi a única estudante, na data, a receber 10 com louvor. Estreitamos laços. Desde então acompanho o trabalho da estilista  que deseja ir além da criação propriamente dita: ela deseja usar a produção como ferramenta para um mundo melhor.  Aqui ela conta para a gente como está fazendo a diferença num dos maiores assentamentos do país.
Por Juliana Foz*
A aproximação entre designers e artesãos é um fenômeno de extrema importância pelo impacto social e econômico que gera e por seu significado cultural. Trabalhar com a identidade local e com o cotidiano faz com que os artesãos tenham mais orgulho das suas origens. Os produtos feitos a mão tem alma, transferem algo que vem de nós mesmos, em vez da uniformidade e da padronização dos objetos industriais. São únicos, têm a beleza da imperfeição. Eles nos contam de um lugar preciso, onde foram feitos por pessoas concretas, trazem um sentido de pertencimento. Neste contexto, o papel do designer, do profissional que pensa criativamente o futuro, é ser uma ferramenta que resolva problemas e necessidades humanas, pensando  de maneira inclusiva e inovadora.
Em sua parceria com o artesão o designer deve pensar em como propiciar à sociedade a ao entorno novos valores; pensar também como criar uma sociedade melhor e, a partir daí, no que podemos produzir para que essa sociedade seja diferente. Os objetos produzidos serão simplesmente o meio, a forma que vai conduzir à compreensão de uma mudança. Acreditando neste poder transformador do design, o objetivo principal do “Projeto Mãos que Tecem Histórias” é oportunizar novas perspectivas de vida às mulheres, para que elas mesmas teçam novos rumos para o futuro: trabalhando, aprendendo e sendo detentoras de seu próprio ganho.
Mãos que Tecem Histórias: na criação de produtos o resgate da autoestima
Mãos que Tecem Histórias: na capacitação e criação de produtos, o resgate da autoestima
O “Projeto Mãos que Tecem Histórias” foi iniciado com o Grupo de Mulheres “Flores do Campo”, dentro da Agrovila Campinas/ Assentamento Reunidas, maior assentamento de terras do Estado, localizado na cidade de Promissão/SP. O nome do projeto propõe a conexão e ressignificação de diversas histórias e origens de diversas partes do Brasil, e que se uniram em uma mesma terra, também criando costumes e identidade neste lugar. O projeto objetiva mapear as potencialidades da região quanto à técnicas de artesanato, matérias-primas e talentos criativos para então desenvolver produtos com a identidade local, gerando impacto social: aumento de renda e ganho de autoestima dos artesãos envolvidos.
Mulheres do grupo 'Flores do Campo':  trabalho coletivo, identificado por uma flor, e individualizado pela personalidade de cada uma.
Mulheres do grupo ‘Flores do Campo’: trabalho coletivo, identificado por uma flor, e individualizado pela personalidade de cada uma.
Não esperar pelo ideal, trabalhando com o que esta à disposição — retalhos de tecido e técnicas manuais – torna-se um desafio. Sabendo que o lixo é o único recurso em crescimento hoje no planeta, e que sua utilização necessita de tempo e atenção para utilizar o resíduo de forma que a peça que tenha um valor estético e comercial, inverte-se a lógica da produção, buscando antes o refugo, escolhendo o material de acordo com suas cores, texturas e peso. Essas características do material acabam por sugerir o produto: escolhemos o que será produzido a partir dos materiais que recebemos. Nas experimentações também se percebe grande variação no trabalho realizado pelas artesãs, de acordo com a personalidade de cada uma. Todas as intervenções realizadas trazem novas possibilidades dentro dos fazeres manuais tradicionais (bordado, crochet, costura), e, buscando novas soluções desafiamos a lógica da produção para então criar produtos mais originais, pois sabemos que esta é a missão do designer: para modificar os atuais modelos de desenvolvimento econômico, deve atuar propondo mudanças e intervenções tanto no consumo quanto na produção.
Juliana Foz é designer, Bacharel em Design de Moda pelo SENAC – São Paulo/SP. Pós-Graduanda em Direção de Criação para Design e Moda pelo ORBITATO – Instituto de Estudos em Arquitetura, Moda e Design – Pomerode/SC. Contato: juliana_foz@yahoo.com.br / (11) 98778 0101